Da arte de degustar a paixão

Por Fernanda Nicz

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(MÚSICA INSPIRADORA! Passione – Thais Gulin)

Primeiro se marcha e o mar se abre ou deve-se esperar o mar se abrir para dar início à caminhada? No primeiro caso, o ser é ativo; no segundo, passivo. O primeiro ousa, assume o comando. O segundo aguarda condições perfeitas (existem?) para começar a se mexer.

Em se tratando de amor ou paixão: primeiro se deixa atrair e a paixão, consequentemente, vem à tona ou deve-se esperar atrair para então se permitir enamorar?

Todas as coisas são criadas duas vezes. As paixões também. A visão é a primeira criação. Dizem que só os heróis sabem suportar a visão. A visão é transformadora. É lá, no olhar, que nasce a atração – dos que se deixam atrair (dos ousados lá do primeiro parágrafo). Depois, o desejo invade a imaginação. E na seqüência, na mente, num primeiro momento, o desejo se concretiza. As coisas se criam dentro do ser para depois, frágil, ou inevitavelmente, se estender ao espaço físico e concretizar-se. Ou não. Mas quase sempre sim. Acredito que se o sentimento é de verdade, sim, vai extrapolar sonhos e invadir a vida real (para alegria – e merecimento – dos ousados lá do primeiro parágrafo). E tudo passa a existir em diferentes formatos. A paixão não vem em câmera lenta, muito menos premeditadamente. Ela simplesmente vem.

Alguns seres não lidam muito bem com a criação das coisas/paixões na visão, imaginação e mente. Atropelam tal fase. Mas continuemos a falar dos que apreciam e se permitem degustá-la. Estes conseguem até mesmo prolongá-la. Conseguem unir visão, imaginação e fatos concretos. Quem se deixa atrair quando menos se espera vive mais leve, pleno. Vive cada momento de paixão como se fosse o último; degustando.

Os que não conseguem entender a arte da verdadeira degustação da paixão fazem questão de jogar: esperam – já que não se permitem deixar atrair – atrair outro ser. Querem sentimentos prometidos, certeza do que está por vir.  São pesados. Freiam. Morrem de medo da leveza. A insustentável, mas necessária leveza do ser. Não acreditam que a paixão pode ser fácil, simples e deliciosa ao mesmo tempo.

Num mundo em que os seres têm tanto medo da perda, existe um excesso de muralhas protetoras contra o mergulho na alma de outro ser. Complemento: num mundo preocupado em se defender, receoso da dor, o permitir-se viver (entregar-se) soa ingênuo. Assustador.

Felizmente há os destemidos. Estes degustarão da paixão. O mundo talvez não os entenda. Nem eles. Mas enquanto o mundo se preocupa em julgá-los, eles, os amantes, que também não sabem ao certo, o quanto se querem ou o que vem depois; ocupam-se em viver. Criam um mundo particular, em que o tempo é coadjuvante, secundário. O que predomina são momentos bonitos e, principalmente, verdadeiros, às vezes, bastante espaçados – duram tempo suficiente para que sintam saudade. Isso é bom, faz parte da degustação da paixão. Eles se querem. São leves, felizes. Não usam códigos ou freios ou frases feitas. Não se preocupam em agradar, naturalmente se agradam. Aproximam-se, como imã. Simplesmente e deliciosamente. E basta.

E mesmo que o tempo leve (separe fisicamente os dois), a paixão continuará a vibrar (na imaginação e na mente), quem sabe, por telepatia, até que certo dia, de presente – por terem marchado mesmo sem o mar se abrir – estarão perto, num mesmo momento. Sim!  As coisas boas e de verdade, – aquelas mais lindas e doces – são de quem ousa marchar sem ter certeza se o mar vai se abrir ou não.  As paixões mais bonitas, sinceras e intensas são presentes àqueles que não têm medo de sorrir e simplesmente dizem sim, eu quero. Eu topo degustar a paixão em todas as suas fases. Simples assim.

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