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Das viagens internas – o frágil aprendiz

Ele não sabe por que veio. Abriu os olhos e sentiu-se pequeno diante dos adultos à sua volta. Quem me trouxe ao mundo? O que devo fazer por aqui e por quanto tempo? Por onde começar?

No início, contou com dois guias que o levavam para vários lugares e pessoas. Encantava-se a cada novidade. Cada curva na estrada representava um desafio. Sentia-se frágil – devido ao seu tamanho –, mas protegido. Não entendia muito bem as conseqüências de seus atos. Sentia e, antes de pensar, agia.

O tempo passou e ele cresceu. A fragilidade do tamanho já não existia. Em seu lugar, nasceu a fragilidade da alma. O pequeno frágil aprendiz tornou-se eterno frágil aprendiz. Ele, que pensava que o tamanho o tornaria forte e menos vulnerável, surpreendeu-se. Era grande e sentia-se fraco a cada momento em que se deparava com outro ser que o encantava. Sentia-se frágil diante de situações que fugiam ao seu domínio. Sentia-se frágil em meio a prédios enormes e barulhos incessantes. Não tinha outro jeito de seguir em frente: precisava reconhecer suas fraquezas, enfrentar e vivenciar medos e anseios.

O que devo fazer por aqui e por quanto tempo? Por onde começar? Ele pensou que teria respostas breves, facilmente. Não. Hoje, ele repete as mesmas perguntas a cada virada ou mudança de rumo. Mas como eterno aprendiz que é, compreende que não precisa de respostas prontas. Preocupa-se mais em sentir-se vivo. (sentir-se vivo: entregar-se. Estar disposto a viver alegrias e tristezas na mesma intensidade, mas sempre viver as emoções de verdade, com a alma).

E segue em constante aprendizado. No momento, vivencia o mais difícil deles: ponderar sobre o sentir. Cuidar do sentir. Parar para pensar nas conseqüências das ações que decorrem do sentir. Ajeitar tudo que borbulha por dentro. Abrir mão de alguns desejos. Aprender a viver certas emoções sem exteriorizá-las. Agir conscientemente. Compreender o que, de fato, faz parte da busca e renunciar aos desvios que surgem ao caminhar. Difícil missão, afinal, segundo Clarice Lispector, perder-se também é caminho.

Mas ao entender sua condição, o ser humano prioriza sua evolução. Hoje, aquele serzinho pequeno e frágil, é gigante, quer abraçar o mundo. E quando olha à sua volta se assusta com tamanha imensidão e se empolga diante de tantas possibilidades. Aí sente. Depois, respira e observa. E sim, hoje, ele pode dizer que vivencia lutas internas entre razão e emoção (pensar e sentir) e acredita que um dia, quem sabe, ambas ocuparão o mesmo espaço dentro dele. Ou não.

Enquanto uns sentem demais, outros pensam demais. E duas coisas são certas: cada um tem seu valor e cada um tem um cantinho no mundo pra ficar no qual fará toda a diferença.