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Curitiba ao sol

por Camila Barp*

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Períodos entre estações são sempre interessantes. Nesse momento de transição do outono ao inverno, o frio que quase chega – por enquanto só ameaça – nos brinda com lindos dias de sol. Sol brando e convidativo que nos chama para sair de casa e desfrutar os dias.

Pessoalmente, acho essa a melhor época em Curitiba. Acordar, tomar um café de padaria (Prestinaria Café e Saint German são ótimas pedidas), depois estender a canga no gramado de um dos parques da cidade, ler um livro e deixar o sol esquentar o corpo. Para os mais animados, os parques São Lourenço, Barigui e Tanguá tem boas pistas de corrida e caminhada.

Na sequência, almoçar num restaurante aconchegante, com um bom vinho para aquecer e alimentar nossas almas mundanas.  Gosto da Cantina do Délio e suas deliciosas massas, do novíssimo – italianíssimo – La Lupa e do literário e delicioso Quintana Café. São opções saudáveis e saborosas.

Com corpo e alma alimentados, a tarde convida para sair de bike pelas ciclovias, particularmente pelo trecho que passa pelo Passeio Público, Bosque do Papa, MON e Parque São Lourenço. Definitivamente essa é a melhor maneira de curtir a cidade com segurança – e em movimento. Se pegar esse trecho, atente ao “Bosque da Sofia”. No caminho, bem em frente ao Palácio das Araucárias, um grupo de jardinagem libertária plantou mais de 50 árvores: jacarandás, ipês, guapuruvus, araucárias, sibipirunas, paineiras, araças, pitangas, bananeiras… Um pouco mais a frente, quase chegando ao São Lourenço, o Belleville Bar oferece aos passantes um bom som ao vivo nos finais de semana.

Ao cair da tarde, um café ou chá para esquentar (Brooklyn Coffe Shop é super indicado), um cineminha para namorar (nesta semana acontece o Festival Olhar de Cinema), sopa para esquentar (Pamphylia ou rodízio do Jungle Juice) e ainda uma cervejinha para socializar. Aliás, cervejarias artesanais tem crescido por aqui, e o Hop´n Roll oferece o que há de melhor, num ambiente super descontraído.

Além de tudo isso, aos sábados, a Feira de Orgânicos do Passeio Público é um ótimo passeio. Uma oportunidade de comprar alimentos que respeitam o meio ambiente, e ainda diretamente dos produtores.  As frondosas árvores do parque embelezam o cenário.

Enfim, opção não falta para quem vive ou passeia por aqui. É tempo de tirar cachecóis do armário, percorrer Curitiba e descobrir tudo de bom que a cidade oferece.

Para quem não tem bike, e quer conhecer a cidade pedalando, a Gond dispõe dessa opção. Simples, delicioso e super acessível: Pedal Ciclovias Curitiba. E para aqueles que querem sair um pouquinho de Curitiba; caminhar, subir montanhas, fotografar… a época também é propícia. Confira nossa agenda.

* que tem curtido Curitiba mesmo no frio! 🙂


Literatura para viagem

por Camila Barp*

Livros são meus companheiros fiéis de viagem. Escolher o livro certo para levar faz parte do ritual de fazer as malas. E escolhê-los passa por critérios distintos – tudo depende do destino de viagem.

Quando vou para uma praia, por exemplo, opto por livros leves, fáceis de ler – de preferência crônicas de viagens. Se for para uma caminhada mais pesada, montanha, ou algo que exija mais esforço físico, prefiro livros que contam histórias de expedição, diários de bordo de grandes travessias ou conquistas (nesse caso, refiro-me à conquista de um cume de montanha, que fique claro). Agora, se o destino é uma grande metrópole, confesso que fico em dúvida se devo ou não levar um livro, já que os estímulos e opções são tantos que normalmente chego ao hotel tarde e tão cansada que mal abro o livro que descansa na cabeceira. Mas a preferência, em viagens assim, são por biografias, que normalmente tem um ritmo peculiar, mais lento. A leitura acontece aos poucos e com grandes pausas, se necessário.

Além de bons e fiéis parceiros de viagens, os livros instigam e dão vontade de viajar. Ler histórias de outros viajantes e suas aventuras mundo afora inspiram a sair da rotina, querer ver novas paisagens, lugares, conhecer pessoas e culturas diferentes. Experimentar o ”novo”.

Gosto também de ler sobre o(s) destino(s) antes de a viagem começar. Nesse caso, o livro tem a capacidade de fazer viajar antes mesmo do embarque, da partida. É prazeroso visitar livrarias, sebos e comprar guias de viagem sobre o destino. Ajudam no planejamento e nos lembram de incluir lugares interessantes no roteiro. Normalmente, nessas visitas, já aproveito e compro o livro que vou levar na bagagem…

Alguns clássicos altamente recomedáveis:

On the Road – Jack Kerouac

Principal livro do autor norte-americano Jack Kerouac. A obra foi referência para uma parcela da juventude estadunidense que estava descontente com suas vidas e resolveram então botar o pé na estrada. O livro narra a história de dois jovens que atravessam os Estados Unidos escancarando o outro lado do sonho americano.

A insustentável leveza do ser – Milan Kundera
Romance com inesgotáveis temas existenciais que constituem uma viagem ao interior das personagens instigando o leitor a refletir em busca do autoconhecimento. Como pano de fundo, a invasão russa à Tchecoslováquia.

Into the Wild – Jon Krakauer

A dramática história de um insubmisso jovem americano revela o lado B de uma aventura mal-planejada.

O grande bazar ferroviárioPaul Theroux

O olhar profundo e ferino de Paul Theroux em sua longa jornada ferroviária desde a Inglaterra até o Japão, por meio dos clássicos expresso do Oriente e Transiberiano.

A Arte de Viajar – Alain de Botton

Botton explica que mais importante que saber o que ver numa viagem é saber por que ver. Num texto saboroso, ele nos conta como as viagens, a literatura e as artes plásticas se influenciam entre si – um simples passeio pode levar à redação de um clássico, que por sua vez pode inspirar a pintura de uma obra-prima, estimulando milhares de pessoas a fazer o mesmo passeio. Neste ciclo infinito, muitas vidas encontram seu sentido.

Diários de Motocicleta – Che Guevara

Relato da viagem feita por Che e o seu amigo Alberto Granado, desde Argentina até a Venezuela, em 1952.

* Camila Barp, que adora receber dicas de livros dos leitores do blog! 🙂


Feliz Ano Velho*

* por Camila Barp

         Várias são as razões que tornam as viagens de fim de ano especiais, mais empolgantes, e quiçá, mais felizes. Há um impulso diferente que nos move nessa época. Buscamos uma viagem que marque a virada do ano, mas também, por muitas vezes, uma virada de atitude, de ciclo, e quem sabe, de vida. Algo parecido com uma esperança de renovação.

          Tais viagens nos fazem pensar mais cautelosamente no destino a ser escolhido. E essa escolha muitas vezes está relacionada ao desejo mais íntimo de cada um: pode ser o que queremos para o ano que vem pela frente, um fechamento de ano em clima de festa ou apenas sair da rotina.

          Eu acabo sempre optando por lugares que me tirem completamente da rotina. Há alguns anos fujo da badalação e sigo para lugares mais tranquilos. E a cada ano que passa, adiciono novos critérios à lista dos desejos de viagem. Prefiro lugares calmos e sem carros – longe dos “points” badalados tão procurados nessa época. Alguns requisitos são difíceis – mas não impossíveis – e importantes e decisivos no momento de definir o destino. Este ano, a busca era por simplicidade e repeti a dose num lugar que merece muitos repetecos: Caraíva, na Bahia.

Há uns quatro anos aluguei uma casa com amigos e fomos passar uns dez dias por lá. Na verdade ninguém sabia muito sobre o lugar, só sabíamos que não tinha carros e que a luz elétrica havia chegado há pouco. E obviamente sabíamos também que se tratava da Bahia, o que por si só, já garante tranquilidade, felicidade, praias paradisíacas e sol. E, de fato, foi inesquecível.

Chegar em Caraíva não é fácil. Não pela distância, mas pelo acesso, que pode ser demorado dependendo das condições da estrada que liga Arraial D´Ajuda a Caraíva. Mas já na chegada, Caraíva impressiona. A travessia do belíssimo Rio Caraíva é realizada em “canoas tradicionais”. Dali já se pode avistar casinhas charmosas e coloridas que beiram o Rio e abrigam restaurantes, lojas e comércio.

Além do Rio Caraíva, que proporciona uma mágica descida de duas horas levados pela correnteza leve – pelo mangue – e da praia de Caraíva, ainda é possível caminhar até a praia do Espelho (9 km de belas praias, falésias multicoloridas e lagoas para parar e se refrescar no caminho). Ou ainda ir de bike ou de buggy até a Ponta do Corumbau (uma ponta de areia que avança no mar azul-turquesa). Deslumbrante.

Mas não é só isso. Na verdade, o que faz Caraíva ser diferente é que estar em Caraíva é fazer uma viagem de volta ao passado. É realizar uma conexão com o que nos é essencial, apenas e tanto. Velhos hábitos paradoxalmente se tornam novos.  Há um desconexão forçada da realidade virtual tão presente em nossas vidas cotidianas.

Lá, as distâncias são todas percorridas a pé, – ou de jegue – sentidas na areia fofa dos caminhos. O celular não funciona (ou não serve) e as pessoas se encontram ao acaso, ou combinam de se encontrar com hora marcada, sem pressão de compromissos e correrias. O tempo por lá funciona diferente. A luz das estrelas ilumina as noites silenciosas e faz sonhar. Há o olhar doce e inocente dos índios pataxós por perto. Há papo de pescador. É possível sentar pra comer embaixo da sombra das amendoeiras e esquecer das horas e de qualquer tipo de rotina (afinal de contas, descanso é lei fundamental na Bahia).

Por lá, é possível dormir de janela aberta ouvindo o barulho do mar. Descansar na rede observando o horizonte. Ler. Refletir sobre como a relação espaço-tempo pode ser tanto aprisionante como libertadora.

Quando viajamos para lugares desconhecidos que oferecem paisagens diferentes e novas pessoas, os dias parecem ganhar horas e durar muito mais do que apenas 24h.

Reverenciar velhos hábitos foi renovador e inspirador. Que possamos desfrutá-los com mais intensidade nesse novo ano. Axé!

* que ainda está com o ritmo bahiano.

Dicas

Ficar: Pousada Flor do Mar

Comer: Moqueca do Magaba, Peixe com Shitak e Shimeji da Cachaçaria Busca Vida e os deliciosos pratos vegetarianos do Canto da Duca.


Pausas Necessárias

Por Camila Barp*

A cada completar de um ano bate em minha porta uma necessidade urgente de férias. Parar pra viajar. Mesmo que viajar signifique movimento. Normalmente, a escolha do destino – um dos meus momentos prediletos – é feita com certa antecedência.

Este ano foi fácil. Juntei o Adventure Travel World Summit que aconteceria no México com o sonho antigo de conhecer o berço da civilização Maia e ainda visitar uma super amiga.  E posso confessar que o México me conquistou antes mesmo de eu pisar por lá. Devorei guias e livros com histórias e diversidades do país – que tem dimensões continentais como o Brasil – encantada.

Um dia desses, já por lá, largada embaixo de um coqueiro, na praia de Xpuha, uma praia de água impressionantemente bela, azul e agradável a poucos passos da minha canga, fiz o que amo fazer em viagens; escrever. Anotar minhas impressões enquanto elas ainda estão vivas e presentes aumentam ainda mais a vivacidade, a grandeza do momento.

Olhar o antes nunca visto desperta sensações. Contemplar o novo ativa sentidos e percepções… e foi num destes momentos de contemplação que pensei em como a América Latina ainda é bastante impregnada com um forte senso de colonialismo (somos bombardeados de empreendimentos estrangeiros, que usam das nossas belezas naturais e do nosso lindo e receptivo povo, como fonte de renda). Em como civilizações tão importantes e avançadas acabaram nas ruas, em suas mais humildes (ou distintas?) condições. As diferenças sociais gritam em cada esquina e como isso me afeta e comove.

Em meio a tudo isso é possível visualizar elementos poéticos. Nas cores, nos sabores, nos temperos. Afinal, como e quanto estamos dispostos a sair de nossa zona de conforto para vivenciar uma realidade distinta? E o quanto discursamos sobre sustentabilidade no turismo como apenas um discurso, como um ideal de algo que está num futuro inalcançável, como uma utopia?

Em minha opinião, não é utopia. É real e está disponível para quem quer de fato vivenciar sem carregar rótulos nem vícios cotidianos nas peregrinações. Como é possível que os nativos se sintam estranhos dentro de sua própria casa (terra)? Não, isso não é o natural. E sigo divagando…

Lembro de frases de Rubem Alves, composições de Cazuza, de Jose Pacheco, das desconstruções do Gaia. Eles falam (falaram) de liberdade. De fazer e falar o que se sente e viver suas deliciosas consequências. Falam do amor e suas mais distintas apresentações.

E todas as idéias e divagações fazem então com que eu me sinta viva e grata por poder desfrutar e compartilhar experiências como esta na vida, no trabalho, nos propósitos. Nas pequenas coisas que são enormes. Nas gentilezas, na receptividade de um povo, nos sorrisos, na beleza da amizade, na família, nas risadas. Deixar-se levar pelo ritmo que não controlamos, pelo ritmo da entrega e do tempo.

Daqueles que viajam como um meio de viver, de deixar a vida levar sem nenhuma pressão externa que condicione o caminho, sinto um pouquinho de inveja e muita admiração. E fico tentada toda vez que ouço alguém me contar que viaja sem dia certo pra voltar, sem planos e sem rotas pré-estabelecidas. Sinto isso ressoar muito vivo dentro de mim.

Essa viagem me trouxe o presente na intensidade do momento. Nos encontros, nas margueritas, nas “cheladas”, nas ruínas e suas suposições infinitas. Pensei também em como eu amo o mar. E como o mar é lindo aqui no México; azul, verde, transparente, cheio de vida. E em como eu amo fazer tudo isso junto. Viajar, escrever, observar e sonhar. De preferência, embalada por uma boa trilha sonora. Tudo isso me faz muito feliz, plenamente feliz. E eu partilho e agradeço a todos os que carrego junto comigo em cada peregrinação. Porque afinal, somos um pouco de cada um que cruzamos e conhecemos.

É como o mantra budista que diz:

LOKAH SAMASTA SUKHINO BHAVANTU
Que todos os seres, em todas as partes, sejam felizes e livres e que meus pensamentos, palavras e ações da minha própria vida contribuam de alguma forma para a felicidade e para a liberdade de todos.

E foi pensando nisso, que tomei meu último banho de mar antes de voltar ao Brasil.

* que agradece. só isso. ou tudo isso.


Quando o pedalar torna-se viajar

* por Camila Barp

Desde sempre gostei de bicicleta. Desde pouco tempo comecei a enxergá-la também como meio de transporte. E, desde então, tenho tentado adaptá-la à vida cotidiana como uma forma mais divertida e saudável de me movimentar. E assim, comecei a percorrer trajetos cada vez mais longos, querendo sempre um pouco mais.

Desde sempre gosto de viajar. E desde pouco tempo comecei a me interessar por viajar de bicicleta ou de tê-la como um meio de viajar. A junção desses dois verbos – pedalar e viajar – inspirou este relato.

Minha primeira viagem cicloturística foi aqui pela Gondwana; Pedal Ilhas Lagamar. Viagem belíssima; Ilha do Mel, Ilha das Peças, Parque Nacional de Superagui, e, por fim, Ilha do Cardoso. Um pedal de 70km, sendo que quase todo trajeto é realizado em areias planas de praia. É um bom começo, pela leveza da viagem e a beleza das paisagens e vilarejos.

Como tudo o que é bom provoca desejos de bis, fiquei com vontade de mais. Mais tempo, mais distância, mais paisagens, mais diversidade de caminhos. Decidi então pedalar na Rota das Baleias (trajeto entre Florianópolis e Imbituba, no litoral sul de Santa Catarina). Nessa época, as gigantes são uma atração especial para a viagem.

Mesmo com a previsão do tempo não muito animadora, resolvemos seguir viagem. Bikes no carro e a estréia do nosso querido Chicão, filho da Dani – de três anos de idade – que nos acompanhou corajosamente nessa aventura. Ele praticamente não tirou o capacete da cabeça durante as três horas de viagem de carro de Curitiba até Floripa. Estava empolgadíssimo com a história de pedalar por praias, caminhos rurais e, principalmente, com a possibilidade de ver as baleias. Tudo era novidade para ele.

A partir da chegada em Floripa, quatro dias de pedal nos levaram por caminhos belíssimos. Teve de tudo: chuva e sol, lama e areia, nuvens e céu azul, terra firme e mar, baleias, mariscos, estradas rurais do interior, lombas, e retas.

Começamos por Itaperubá, visitando o Museu da Baleia Franca. Lá tivemos uma boa introdução ao importante esforço de conservação que tem sido feito para tirar as baleias-francas da lista de espécies em risco de extinção. Depois, pedalamos por Imbituba e Ibiraquera até chegar à praia do Rosa, onde dormimos na primeira noite.

No dia seguinte, pedal até a praia do Ouvidor – trilha de restinga, dunas e campo – e chegamos ao Projeto Gaia Village que desde 1997 tem a proposta de assentamento humano sustentável (trabalho reconhecido pelo José Lutzenberger) e iniciativas de grande impacto. Chá quente e uma boa conversa para repor as energias.

Seguimos adiante até Garopaba, infelizmente dentro do ônibus, já que chovia muito forte. No final, uma feliz coincidência: conseguimos chegar a tempo da última saída de barco para ver as baleias bem de perto. Nessa época, elas ficam por ali alimentando os filhotes que treinam seus pulos perto do aconchego das baleias mães. Vimos oito mães com seus filhotes, muitos deles bem ativos, exibindo suas caudas e saltos para os ávidos e curiosos turistas do barco. Na sequencia; Siriú, pouso da segunda noite.

O terceiro dia de pedal foi lindo. Começamos com uma boa subida para aquecer e, no topo do morro, uma vista ampla das praias da Guarda, Gamboa e Pinheira. Trechos de áreas rurais, cenários bucólicos, e um delicioso café da tarde no Engenho das Três Irmãs enfeitaram o dia.

Lembro que nesse dia, comecei a sentir algo novo. Um ritmo novo. De caminho, não de chegada.  O ritmo de curtir cada pedalada como um meio de chegar, e não como um fim em si. O prazer de sentir o vento no rosto, observar a beleza do trajeto, conversar com os companheiros de viagem. Sentir a diferença de terrenos, o sol, o sal, a chuva. Enfim, uma certa poesia se instalou ali, nesse novo tempo-espaço de viagem. Acredito que foi a descoberta de um novo ritmo de viagem gerado pela intensidade que queria dar a ele; mais pesado, mais forte, mais leve – dentro das possibilidades – e a vontade de seguir em frente. Tudo muito novo, tudo muito bom. Adjetivos que ainda não consegui nomear por completo. Ainda estão no verbo sentir e não no pensar.

E para completar, o último dia foi de céu azul, mar esverdeado, e a Guarda do Embaú, minha preferida. Travessia de barco, pedal pelo sul da Ilha de Floripa, a histórica Riberirão da Ilha com seus casarios antigos beirando o mar, mariscos, ostras, camarão, mais pedaladas e a viagem chegou ao fim. Mas a vontade não, a vontade era de ficar na bicicleta e seguir adiante. Dizem que a gente nunca quer que as viagens boas cheguem ao final, queremos sempre prolongá-las ao máximo. Começo a acreditar…

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* que vê novas possibilidades sobre duas rodas….


Cuba Me Encanta

Por Camila Barp*


Falar sobre Cuba não é simples.

Talvez por Cuba ser única. Provavelmente o lugar mais diferente que meus pés já pisaram. Um detalhe importante é que, ao contrário de muitos lugares remotos e distantes, Cuba é acessível e fácil de chegar. Porém, mesmo com a proximidade, a sensação é de que estamos indo para um lugar muito distante. Uma ilha fechada em si. E de fato estamos.

A distância é perceptível já nos preparativos da viagem. Dólares e cartões de crédito não são a moeda da vez e internet e celular não são a melhor forma de comunicação. Tais constatações dão uma pequena idéia de que não se trata de um lugar comum. É como um retorno ao ‘modus vivendis’ pré globalização, e que, mesmo sendo um fenômeno tão recente, já se faz tão presente e intenso em nossas vidas.

Malas prontas, embarcamos cheios de expectativa. No grupo, muitos fotógrafos ávidos por cliques.

Sobrevoar Havana antes do pouso faz o coração bater mais forte. E descer no aeroporto vermelho San Jose Marti já demonstra e prepara para o que vamos ver.

A meia hora que separa o aeroporto do hotel causou um choque estético maravilhoso. Os famosos carros dos anos 50 e 60 com motoristas fumando charutos cubanos, as cores, as mensagens revolucionárias, os retratos de Che nos outdoors (diga-se de passagem, os únicos outdoors de Cuba) chamam a atenção.

Durante o trajeto, todos mantiveram as câmeras fotográficas nas bolsas. Mas ao chegar ao hotel, uma surpresa irresistível: uma noiva vestida de rosa pink entrando num carro branco aonde o noivo a esperava. Naquele instante teve início a viagem fotográfica.

Á noite, saímos para jantar e no caminho passamos pelo Malecón – muro que beira a praia ligando o centro antigo aos bairros mais novos, considerado a alma de Havana – e, pôr do sol de um lado, ruelas e casarios poeticamente coloridos (ou descoloridos) de outro, foi assim que Cuba nos proporcionou a melhor ‘bienvenida’ que poderíamos ter. Demorou apenas uma tarde para Cuba me encantar.

E ainda nem tínhamos nos perdido pelas ruelas belas e imperfeitas de Havana Velha. Nem conhecido os simpáticos cubanos (sorridentes anfitriões), as belíssimas paisagens montanhosas de Viñales (e a névoa fina separando a vila das montanhas), o antigo e preservado casario colonial de Trinidad, a tranquilidade de Santi Spiritus e o mar azul esverdeado de Ancón. Além, é claro, de tudo aquilo que não se vê, mas se sente. O calor tropical se fazia presente para nos lembrar que estávamos no Caribe, e os mojitos e daiquiris se faziam quase que obrigatórios nos finais de tarde…embalados pela excelente música cubana, presente em todos os lados.

Estar num dos últimos países socialistas do mundo provoca reflexões. Faz a viagem continuar e se estender além da volta. A intensidade e o choque cultural e estético oferecidos para quem vive Cuba mesmo que por um curto período de tempo, desperta sentimentos e sensações fortes. Impossível não pensar no que acontecerá num futuro próximo. A sensação é de urgência. Em ir, viver, conhecer e curtir Cuba, do jeito que ela é.

E, na verdade, para mim, as maiores reflexões aconteceram depois da volta. Não pretendo aqui fazer considerações políticas ou ideológicas. A idéia é transmitir um pouco do que Cuba deixou em mim: um imenso apreço pela liberdade, a riqueza de aprendizado que as diferentes formas de vida nos proporcionam e a valorizar as tantas escolhas diárias que nos são permitidas fazer. Que possamos fazer delas nosso instrumento de felicidade e autonomia.

* que já está com saudades de Cuba.


Outono Curitibano

* por Camila Barp

A chegada do outono me inspirou a escrever sobre montanhas (pela excelente época para caminhadas), porém, na última hora mudei de idéia e resolvi falar sobre o que mais tem me ocupado o tempo nestes belos (e frios) dias de outono em Curitiba.

Após conhecer Berlim no inverno rigorosíssimo do ano passado, com dias de neve intensa e um frio que eu não conhecia até então, decidi assumir que o inverno de Curitiba é frio sim, mas nem tanto. E se, mesmo nesses dias congelantes de Berlim, vi bikes pelas ruas e pessoas vivendo normalmente suas rotinas, algo deveria ser mudado na minha atitude aqui, onde vivo. É cultural reclamarmos do frio curitibano, mas se moramos aqui, acredito que há um potencial de escolhermos como queremos viver aqui, e no frio.

A primeira mudança veio na mobilidade. Algo que possa aquecer enquanto me movimento diariamente. A bicicleta se mostrou uma excelente opção. Além de mudar a rotina, proporciona novas maneiras de ver e viver nossa cidade, e, por tabela, aquece o corpo (e tenho constatado que a alma também).

Depois, aproveitar os belos dias azuis que temos nessa época para descobrir parques e ciclovias da cidade, aproveitando para estender uma canga, ler um livro, ou chamar os amigos para uma roda de conversa ao sol. O pôr-do-sol do Jardim Botânico e o gramado atrás do MON (Museu Oscar Niemeyer) são boas opções. O bosque de Araucárias dentro do Bosque do Papa, é uma surpresa dentro da cidade. Se estiver de bicicleta, o trajeto da ciclovia que liga o passeio público, bosque do papa e parque São Lourenço revela uma Curitiba verde e pacata, com ares de passado.

Para descansar a mente e colocar o papo em dia, um café (Lucca, Hacienda, Quintana) ou chocolateria (Cuore di Cacau e Passion du Chocolat) é um convite para os fins de tarde. Na sequencia, esticar para um cinema, teatro ou exposição – sempre ótimas no MON e no Solar do Barão.

As feiras gastronômicas com comidinhas típicas são praticamente irresistíveis, assim como juntar os amigos e fazer uma roda de pinhão e quentão. Ou ainda, reinventar-se na cozinha e provar novas receitas de sopas, pizzas e quitutes que aqueçam nossos paladares.

As festas juninas que começam agora são também ótimas opções para espantar o frio. Ou ao menos, fazê-lo parecer mais acolhedor.

Fica o convite.

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Para finalizar com gosto da nossa cidade deixo uma reflexão do curitibano Paulo Leminski;

“Nada se leva. A não ser a vida levada que a gente leva.”

Que saibamos conduzí-la na abundância que nos é proporcionada.

* e para quem gosta de uma aventura diferente – acompanhado de especialistas nas atividades – , recomendo:

– 23 a 26/Junho/2011 – Pedal ilhas Lagamar (Ilha do Mel, Ilha das Peças, Superagui e Ilha do Cardoso)

– 16 e 17/Julho/2011 – Expedição do Pico Paraná.

Mais informações: www.gondwanabrasil.com.br


Gondwana Brasil Ecoturismo: 10 anos de história

por Camila Barp*

No último dia 20 de abril celebramos uma década de Gondwana. Em datas importantes como essa é comum fazermos uma retrospectiva. Traçar um pouco da trajetória; resgatar fatos marcantes que nos acompanharam e nos fizeram tomar determinados rumos para chegarmos até aqui hoje, o que pode se considerar como uma pré-adolescência. E dentro do segmento específico que operamos, já é uma grande conquista.

No baú, muita troca, muito aprendizado, muitas relações, muito vento a favor e alguns ventos contra. Muita gente remando junto, com alguns ajustes de comando no leme, mas sempre firme, com trajeto alinhado e alguns ajustes de rota necessários e vitais.

Disso tudo que vivemos, fica forte e presente o sentimento de gratidão a todos que estão envolvidos com a Gondwana (direta ou indiretamente) e a certeza de que, não sendo o caminho mais fácil, nos proporcionou enorme possibilidade de aprendizado e conquistas. Afinal de contas, que montanhista escolhe o caminho mais rápido para chegar ao cume?

Preferimos seguir desfrutando a beleza do percurso.

Que os bons ventos, o sol, as belas paisagens e as trocas tão valiosas acompanhem nosso caminho.

E 2011 vem cheio de novidades, aguardem!

Aproveito para dar boas-vindas a Kamila e depedir-me do Augusto. Que suas novas trajetórias sejam repletas de alegrias e muita satisfação.

Avante! Ahô!

* que não quer para de celebrar essa década!


Carnaval Imperial

* por Camila Barp

Há anos planejo passar o carnaval no Rio de Janeiro. Por tudo que já vi (reportagens, filmes) e ouvi (a boa MPB de Chico Buarque e seus companheiros) sobre a festa da cidade que já é maravilhosa mesmo sem carnaval. Mas confesso que, ao assistir no jornal as multidões pulando nas ruas, animadas e ensandecidas atrás dos blocos uma semana antes do começo oficial do carnaval, quase hesitei. Ainda bem que não.

Em pleno domingo de carnaval lá estava eu me preparando para a primeira etapa: vencer a Sapucaí até o dia amanhecer. Como em qualquer evento dessa proporção, cheguei bem cedo para garantir um bom lugar na platéia. E de lá só saí às sete horas da manhã, com uma bela imagem do dia nascendo e o Cristo abençoando o Sambódromo logo após o desfile da Mangueira (clássico, e com a melhor bateria da noite).

Por mais que o carnaval da Sapucaí não seja tão democrático como o restante do carnaval no Rio, vale muito assistir, ao menos uma vez na vida. Pela criatividade e beleza que impressionam, e o samba e gingado que eu duvido que outro povo tenha. A animação é contagiante, entra pelos poros. E fica. Como eles mesmos dizem, é o maior show da terra. Agora eu acredito.

Chegar em casa às oito da manhã, ainda muito animada, cheia de energia e cogitando pegar o próximo bloco de rua que começaria as nove, me fez perceber que o carnaval já tinha me contaminado antes mesmo de eu perceber. E, para minha surpresa, quando pensei que já tivesse visto o melhor do carnaval, ao sair para seguir um bloco em Ipanema, me deparei com pessoas caminhando no meio da rua, de manhã, fantasiadas dos mais variados trajes e personagens. Um clima de diversão e curtição tipicamente carnavalesco pulsava nas ruas.

Até me senti careta de estar ali vestida sem graça, com roupas que uso rotineiramente.  Sai então, em busca de algo que me tirasse da caretice diária. Flores, cores, rosas, chapéu, colares. Pronto. A fantasia permitia a diversão que perduraria pelos próximos cinco dias.

Simultaneamente, diversos blocos passam pelas ruas da cidade. Bangalafumenga, Me beija que eu sou cineasta e Vagalume levaram multidões às ruas. Ponto para a organização e civilidade em todos eles.

Os dias parecem parar para os desfiles. A tristeza e a preocupação saem de férias e se instala um sentimento de ‘pura diversão’ fantástico. A vida sem as amarras convencionais do cotidiano. A única regra é se divertir e é proibido proibir. Em tempos de tantos compromissos , agendas e conectividade…poder somente se divertir é um luxo maravilhoso. E altamente recomendável. Além de tudo isso, para quem visita o Rio pela primeira vez, ainda é possível passear pelos pontos turísticos no intervalo dos blocos.

E finalizar o carnaval assistindo Mulheres de Chico (25 batuqueiras tocando puramente Chico Buarque em ritmo de samba) em pleno Leblon, com os pés na areia vendo as ondas quebrarem no background foi de arrepiar…

Eu, se fosse você, já garantiria vaga para o carnaval do próximo ano! Há pouco li o resultado da pesquisa com os turistas que estiveram no Rio para o carnaval de 2011. Não estou sozinha em minha opinião; 97% dos entrevistados afirmaram que voltariam.

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* que queria contar também da viagem que fez para Paraty nesses dias, mas terá que ficar para a próxima coluna!


Ponto de Mutação

* por Camila Barp

foto: Tatiana Nicz

Tragédias não anunciadas e anunciadas nos chamaram a atenção nas últimas semanas.

As enchentes e desabamentos no Rio de Janeiro foram exaustivamente denunciadas em todos os meios de comunicação. Cenas de destruição, desespero e tristeza foram retratadas. Imagens fortes comparáveis a cenas de guerra e que, pelo apelo, nos fez sentir muito próximo, mesmo a quilômetros de distância. Há um interesse coletivo inconsciente de assistir a esta tragédia não anunciada, fruto de um mix de incoerências governamentais, urbanas (ocupacionais) e ambientais.

Isso tudo gerou diversas discussões; ocupação irregular, políticas governamentais, mudanças climáticas, assistencialismo, etc. Hoje sabemos que vai custar R$ 2 bilhões só para reconstruir infra-estrutura, fora os custos sociais não contabilizados.

Por outro lado, a comoção do povo brasileiro foi exaurida e aplaudida. Somos, de fato, um povo solidário.

Mas afinal, o que mudou?

Uma das interrogações que repetidamente me ocorre é: qual é o ponto de mutação? Que ponto deve ser atingido para de fato acionar uma mudança?

Corrigir erros não corrige a causa. Ajudar desabrigados é importante, mas não muda o sistema e não evita novas tragédias.

Tragédias intimamente relacionadas à essa foram anunciadas e o que fizemos para evitar? A mudança no Código Florestal Brasileiro está para ser aprovada (leia-se: acabar com a proteção das nossas florestas = novas tragédias anunciadas) e a usina de Belo Monte está sendo aprovada goela abaixo do povo. E o que fizemos para evitar?

Entristece-me ver a passividade e o sentimento de missão cumprida por alguns quilos de arroz ou depósitos de reais em contas bancárias para ajudar aos necessitados.

Qual é o ponto de mutação? O que mais precisaremos ver para de fato agir?

Certa vez um amigo disse que mudamos por dois motivos: ou por um grande amor, ou por uma grande tragédia. Por um grande amor, acredito que muitos já tenham mudado.

Agora, temos em nossas mãos, a oportunidade de reagir e mudar por conta de uma grande tragédia anunciada. Pela continuidade de nossa atividade (e de muitas outras).

Aproveite esta grande oportunidade!

Link e infos Mudança no Código Florestal / Belo Monte:

http://www.ekosbrasil.org/media/file/OpCF_gs_010610_v4.pdf

http://www.avaaz.org/po/pare_belo_monte/?cl=936923534&v=8351

* que ainda acredita na força da sociedade civil organizada


Lista de desejos

* Por Camila Barp

Enfim, férias. Esta é a frase que mais tenho escutado nas últimas semanas. O clima de viagem é contagiante. Férias letivas, natal, ano novo, verão. Ah! o verão… Época de celebração, afinal, fim de ano traz sempre um sentimento de renovação. Tal sentimento faz parte da origem do advento natalino, e por mais que cada vez menos nos atentemos a isso, sentimos vontade de concretizar mudanças.

Antes da virada, fazemos uma avaliação do ano, das conquistas, do que foi bom, do que podemos mudar, do que vale a pena carregar adiante e do que podemos deixar pra trás. Época de esperança; tudo soa mais possível e alcançável. É como se pudéssemos fechar uma porta (com chave) e deixar pra trás os velhos hábitos, a rotina, aquele amor que não deu certo. E ali na frente, abrir uma nova porta e se deparar com o vazio e milhões de possibilidade de rechear a vida com novas atitudes: mais exercício físico, comida saudável, viagens… a lista é enorme. A minha, é sempre animadora a cada inicio de ano.

Para os que decidem viajar, o planejamento começa cedo. Cerca de três meses antes da virada tem início a programação: baladas, família, praia deserta, fazenda, caminhadas, acampamento, cruzeiros etc. Viagens de fim de ano soam como ritos de passagem e refletem o momento de cada pessoa; cada um buscando um desejo para o novo ciclo.

Alguns decidem não viajar, meu caso este ano. Sair de fato da rotina, já que minhas viradas têm sido na estrada há pelo menos uma década. Ver como é isso; descansar sem sair do lugar. Não perder tempo em estradas ou aeroportos. Não precisar fazer malas ou vivenciar despedidas. Não pular ondas. Sem dúvida, cada detalhe será uma novidade pra mim já que o movimento das viagens me acompanhou fortemente durante todo o ano.

Família e velhos amigos na cidade. Celebrar a paz, a amizade e um novo começo com direito a lista de desejos. Andar mais de bicicleta, praticar yoga, subir montanhas, tomar banhos de cachoeira, viajar para lugares desconhecidos e fotografar muito. Permitir que sensações despertadas em viagens tragam mudanças ou reafirmem escolhas por vezes esquecidas em meio à rotina. Fazer jus ao lema da Gondwana para 2011: que experimentemos coisas diferentes, aprendamos algo novo e nos aproximemos da natureza.

E lembre-se: um novo ano só começa bem quando sabemos nos despedir do passado. Aproveite o sentimento de mudança para rever antigos valores e quem sabe, adquirir novos hábitos que combinem mais com a pessoa que é hoje. Boas festas, boa viagem (pra quem vai)…e boas férias!

* que não vê a hora de começar a colocar a sua lista de desejos para 2011 em prática.

Dica de livro para as férias: A arte de viajar, de Alain de Botton. Inspirador.


Lugares e sabores

Por Camila Barp*

Sabor é parte essencial de qualquer viagem. No meu caso, a experiência gastronômica já começa no aeroporto, com o café que antecede o embarque. Em meio ao vai e vem de pessoas, bagagens, chegadas e despedidas. É como se esse momento marcasse um ritual de iniciação à viagem em si. É parte fundamental do roteiro.

No quesito sabor, cada país tem sua especialidade, mas poucos remetem tanto à gastronomia quanto a Itália. Queijos, vinhos, massas, pizzas e temperos. Alguns deles já foram incorporados à nossa mesa, mas o fato de estar na Itália e poder provar tudo isso faz nos sentirmos parte do lugar. Como evidenciado no hit “Comer, Rezar e Amar”, um dos pontos altos de uma viagem a Itália são os sabores. E não é clichê, é pura constatação de uma realidade cotidiana.

Lá, a gastronomia é famosa não apenas pelo que se come, mas também pelo ritual que envolve cada refeição. Desde a entrada até a siesta (que ainda é realidade presente, mesmo em épocas de non-stop), tudo acontece como num roteiro de filme. Faz parte do ritual o café expresso pela manhã, o gelatto no meio da tarde e um vinho no fim do dia. Participar deste roteiro é incorporar-se à rotina dos moradores locais.

Saborear a culinária local traz diversas sensações. Fugir dos fluxos turísticos e evitar restaurantes indicados em guias de viagem propicia uma aproximação real com a vida cotidiana. Provar bebidas típicas, entrar num restaurante e pedir o prato do dia é parte da minha rotina de viagens. Acredito que atitudes como estas abrem portas para novas descobertas sensoriais. E tais sensações ficam registradas na memória e prolongam o gosto da viagem por muito mais tempo. Nossa memória é facilmente ativada quando provamos novamente desses sabores.

Cada lugar tem seu sabor. Nós, brasileiros, sabemos bem disso. São únicos e insubstituíveis o gosto do feijão com arroz, da farofa, do pão de queijo, do guaraná, do açaí, da caipirinha, entre tantos outros. É disso que sentimos falta quando estamos fora. E é isso que levam daqui os que pelo Brasil passam. Não há diversidade que compense a singularidade dos sabores que compõem nosso paladar e nos trazem a sensação de estar em casa. E, paradoxalmente, é justamente o oposto de quando estamos viajando, em trânsito. Daí a importância de experimentar novos sabores.

Permita-se degustar suas viagens com sabor local.

Bom apetite!

* que ainda degusta os sabores da Itália até a próxima viagem.


Em busca das origens ou a viagem como resgate.

* Por Camila Barp


Desde sempre viajamos para buscar algo (em busca de algo). No meu caso, a busca é por um contato com coisas minhas,  que descubro a cada viagem : sentimento de liberdade plena, novos olhares, sentimentos, novas luzes e espaços, inspirações e vários outros  sentimentos que são imperceptíveis na correria do dia-a-dia. Na verdade, é uma busca de resgate da essência,  é a busca do que resta quando tiramos de nós a rotina que nos ocupa os dias.

Há algum tempo, impulsionada por conversas familiares sobre nossas origens, nossos avós e como eles imigraram para o Brasil, fui tocada por  uma vontade de conhecer essa história mais de perto. Animada pela família, decidi colocar data na viagem e me arriscar em aulas de italiano para ajudar na comunicação, fundamental nesse resgate.

A partir daí, deu-se um toque mágico ao roteiro: cartas, fotografias, relatos e muitas histórias contadas  nos ajudaram a pensar onde queríamos ir e o que queríamos visitar na Itália. A idéia de conhecer um pouco mais sobre os caminhos que nos trouxeram até aqui hoje é empolgante. Afinal, muito do que gostamos hoje tem influência muito mais antiga do que imaginamos.

Analisando um pouco disso tudo posso  fazer uma relação íntima entre os gostos : montanhas, vilarejos, natureza, gastronomia…Já ouvi de muita gente que o Brasil e a Itália têm muito em comum. E agora chegou o momento  de constatar isso de perto.

Conversas regadas a vinho com amigos que já estiveram por lá, pesquisas em guias de viagem e internet e finalmente um roteiro pronto. Agora é fechar as malas e resgatar histórias.

Há poucos dias, durante o ABETA Summit em São Paulo, ouvi do Vinicius Romanini (professor ECA/USP) que algumas motivações e sensações  são ´experiências que permanecem sob o domínio analógico´eternamente, ou seja, elas só podem acontecer com espaço e tempo  bem  definidos e aproveitados. E viajar é uma dessas experiências.

Deixo então o mundo digital para embarcar…

Arrivederci!

*Camila Barp que não vê a hora de pisar na Itália…


A democracia da aventura

por Camila Barp*

Do Pantanal (última coluna) seguimos em direção a cidade de Bonito – também no Mato Grosso do Sul – conhecida pelos seus atrativos naturais e pelas práticas sustentáveis de operação desses atrativos.

De Miranda a Bonito são 140 quilômetros e a estrada, ainda  de terra, está em obras para asfaltamento. No caminho paramos para visitar a Boca da Onça, uma propriedade particular localizada no alto da Serra da Bodoquena. Do  ponto mais alto, o passeio começa com um rapel de 90 metros de altura para os mais aventureiros e para os menos aventureiros, é possível trocar a corda por alguns degraus. Da plataforma do rapel, é  possível observar a nascente do Rio Salobra, o mesmo que deságua e banha o Refúgio da Ilha (onde estivemos no Pantanal), mas aqui ele corre livre serpenteando um vale de montanhas verdes e contínuas (e montanhas são uma raridade nessa paisagem).

Caminhadas, banhos de cachoeira e a deliciosa comida caseira são o ponto forte desse passeio,  indicado para quem vem do Pantanal em direção à Bonito (ou vice-versa).

Com as energias recarregadas, seguimos por mais 1h30 até chegar ao destino final – Bonito. A cidade é tranqüila, interiorana e oferece o necessário para uma boa estada: variedade de hotéis,pousadas, restaurantes, bares e um pouco de charme completam o cenário.

A peculiaridade da região deve-se  à formação rochosa calcárea do solo combinada à abundância de água que propiciam a Bonito essa condição especial de águas cristalinas, cavernas, grutas e cachoeiras que impressionam seus visitantes.

Já que  grande parte dos atrativos fica fora da cidade, com distâncias que variam de 20 a 70km, é importante planejar bem os passeios para otimizar o tempo e o custo da viagem. Vale lembrar também que um dos únicos passeios acessíveis de bicicleta,  para não enfrentar grandes distâncias, é o Balneário Municipal e vale a visita.


E definitivamente não deixe de ir  à Gruta do Lago Azul (pela beleza cênica), o Rio da Prata (pela qualidade da visibilidade na flutuação, a diversidade de fauna aquática e o olho d água) e o Abismo Anhumas pela experiência única num lugar tão inóspito (rapel de 72m de altura caverna abaixo para chegar numa plataforma flutuante de onde pode-se fazer mergulho, flutuação e passeio de barco em formações rochosas diferentes de tudo que você provavelmente já viu). Para quem vai ao Rio da Prata, uma visita ao Buraco das Araras é obrigatório para vê-las em seu habitat natural colorindo e enfeitando a paisagem rochosa.


Mas o ponto que quero ressaltar é que o que consolidou Bonito como destino nacional e internacional referência em ecoturismo e aventura no Brasil vai  além das suas belezas naturais. É impressionante  a organização e a qualidade operacional em cada um dos atrativos que visitamos. Centro de visitantes, guias especializados, controle no número de visitantes, sistema de gestão de segurança e ambiental da atividade, além de excelente infra-estrutura para receber os aventureiros fazem com que grande parte dos atrativos   atendam na mesma atividade crianças, jovens e idosos. E não é difícil encontrar famílias em que  avós e netos desfrutam juntos desse momento cada vez mais raro de comunhão com a natureza.

Propiciar esse resgate e descoberta  com sustentabilidade, qualidade e segurança é um exemplo a ser seguido. Caminhamos rumo ao reconhecimento da importância da democracia da aventura.

Já que a aventura tem um significado diferente para cada um, vamos descobrí-lo no contato com a natureza, valorizando a cultura da vida ao ar livre.

Que todos possamos desfrutar desses pequenos prazeres que causam grandes mudanças.

*Camila Barp, que vive tentando descobrir alguma aventura urbana possível…

Agradecimento à agencia ar, pousada arizona e atrativos de bonito.

Roteiros para Bonito no site: http://www.gondwanabrasil.com.br


Pela savana brasileira

por Camila Barp*

A paisagem que leva ao Pantanal já impressiona logo no começo da viagem. Ao contrário das grandes serras que temos na costa brasileira, são os longos e intermináveis campos que se apresentam na estrada que liga Campo Grande ao Pantanal – no centro do Brasil – que chamam atenção. A impressão que dá é que ela foi feita intencionalmente assim, para que possamos contemplar as belas árvores que compõem o cenário desses campos.

É fato que a primeira imagem associada ao Pantanal remete a animais, mas são as frondosas árvores que primeiramente impressionam. Aroeiras, Buritis, Jatobás e Ipês destacam-se singulares ali, numa área que é basicamente ocupada por longos campos de pastagem. São as sobreviventes de um retrato antigo do Brasil. Muitas delas sobreviveram ao longo do tempo por criarem recursos próprios de sobrevivência para os ciclos de secas e cheias do Pantanal e também das queimadas, comuns na época da seca. Grande parte delas ainda é importante matéria-prima para chás e remédios usados pelos habitantes da região.

Chegando na primeira Fazenda, começa a experiência de estar no Pantanal. Agora sim, além das árvores, são os animais que impressionam, além de várias outras surpresas. O fato do Refúgio da Ilha* ser um local comprometido com a preservação do meio ambiente, ajuda na quantidade e diversidade de animais que pudemos avistar. Na primeira caminhada, ao entardecer, o olhar atento e sensível do guia nos apresentou uma enorme quantidade de aves e cantos num pôr-do-sol multicolor, típico do Pantanal. Destaque para as emas (que dificilmente são avistadas livres), as revoadas de papagaios e araras, e o canto do tachã – também chamado de sentinela do Pantanal – pelo forte som que emite para avisar aos animais que alguém se aproxima. Já adaptadas à rotina pantaneira de acordar e dormir cedo, os dias que se seguiram foram de canoagem – com encontro de uma curiosa família de ariranhas (raras!) – cavalgadas ao pôr do sol ao lado de tamanduás e bandos de aves, café da manhã estilo piquenique na baía ao amanhecer do dia, bandos de macacos-prego, bugios, aguapés gigantes, safári noturno com corujas, dormitório de araras e avistagem de animais de hábitos noturnos. Tudo isso sempre acompanhado de deliciosas refeições, banho de rio de águas cristalinas para refrescar e uma boa conversa no final do dia.

O Pantanal é um convite a ver de perto as belezas e animais que compõe parte de um ciclo vital do Brasil, um lugar único no mundo. Um lugar tão rico e importante que infelizmente ainda sofre com  altos níveis de degradação que o coloca em sério risco de extinção. A atenção e o cuidado nessa Fazenda  fazem desse lugar um local único e um santuário da vida selvagem do Pantanal.

Importante lembrar ainda que o cenário muda completamente a cada temporada. O período da cheia que começa em janeiro e atinge seu ponto máximo em maio/junho se caracteriza pela formação de baías, lagoas e corixos e o período da seca que começa em agosto e vai até dezembro, faz com que os nutrientes trazidos e deixados pelas águas adubem o solo e atraiam os animais em busca de alimentos. Ou seja, há sempre um bom motivo para voltar… o meu é que a onça-pintada resolveu não aparecer dessa vez…

*Refúgio da Ilha : Pousada adaptada em casa de fazenda, refúgio de vida silvestre, excelente comida, atenção e qualidade nos passeios.  Os animais vivem  sem qualquer intereferência humana. Pontos fortes: localização, filosofia, gastronomia e atenção.

A Gondwana Brasil oferece diversos roteiros para o Pantanal. Confira no site www.gondwanabrasil.com.br

*Camila Barp que desde que voltou do Pantanal, fica observando as árvores de Curitiba na tentativa de identificar novos pássaros para sua birdlist amadora.