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Feliz Ano Velho*

* por Camila Barp

         Várias são as razões que tornam as viagens de fim de ano especiais, mais empolgantes, e quiçá, mais felizes. Há um impulso diferente que nos move nessa época. Buscamos uma viagem que marque a virada do ano, mas também, por muitas vezes, uma virada de atitude, de ciclo, e quem sabe, de vida. Algo parecido com uma esperança de renovação.

          Tais viagens nos fazem pensar mais cautelosamente no destino a ser escolhido. E essa escolha muitas vezes está relacionada ao desejo mais íntimo de cada um: pode ser o que queremos para o ano que vem pela frente, um fechamento de ano em clima de festa ou apenas sair da rotina.

          Eu acabo sempre optando por lugares que me tirem completamente da rotina. Há alguns anos fujo da badalação e sigo para lugares mais tranquilos. E a cada ano que passa, adiciono novos critérios à lista dos desejos de viagem. Prefiro lugares calmos e sem carros – longe dos “points” badalados tão procurados nessa época. Alguns requisitos são difíceis – mas não impossíveis – e importantes e decisivos no momento de definir o destino. Este ano, a busca era por simplicidade e repeti a dose num lugar que merece muitos repetecos: Caraíva, na Bahia.

Há uns quatro anos aluguei uma casa com amigos e fomos passar uns dez dias por lá. Na verdade ninguém sabia muito sobre o lugar, só sabíamos que não tinha carros e que a luz elétrica havia chegado há pouco. E obviamente sabíamos também que se tratava da Bahia, o que por si só, já garante tranquilidade, felicidade, praias paradisíacas e sol. E, de fato, foi inesquecível.

Chegar em Caraíva não é fácil. Não pela distância, mas pelo acesso, que pode ser demorado dependendo das condições da estrada que liga Arraial D´Ajuda a Caraíva. Mas já na chegada, Caraíva impressiona. A travessia do belíssimo Rio Caraíva é realizada em “canoas tradicionais”. Dali já se pode avistar casinhas charmosas e coloridas que beiram o Rio e abrigam restaurantes, lojas e comércio.

Além do Rio Caraíva, que proporciona uma mágica descida de duas horas levados pela correnteza leve – pelo mangue – e da praia de Caraíva, ainda é possível caminhar até a praia do Espelho (9 km de belas praias, falésias multicoloridas e lagoas para parar e se refrescar no caminho). Ou ainda ir de bike ou de buggy até a Ponta do Corumbau (uma ponta de areia que avança no mar azul-turquesa). Deslumbrante.

Mas não é só isso. Na verdade, o que faz Caraíva ser diferente é que estar em Caraíva é fazer uma viagem de volta ao passado. É realizar uma conexão com o que nos é essencial, apenas e tanto. Velhos hábitos paradoxalmente se tornam novos.  Há um desconexão forçada da realidade virtual tão presente em nossas vidas cotidianas.

Lá, as distâncias são todas percorridas a pé, – ou de jegue – sentidas na areia fofa dos caminhos. O celular não funciona (ou não serve) e as pessoas se encontram ao acaso, ou combinam de se encontrar com hora marcada, sem pressão de compromissos e correrias. O tempo por lá funciona diferente. A luz das estrelas ilumina as noites silenciosas e faz sonhar. Há o olhar doce e inocente dos índios pataxós por perto. Há papo de pescador. É possível sentar pra comer embaixo da sombra das amendoeiras e esquecer das horas e de qualquer tipo de rotina (afinal de contas, descanso é lei fundamental na Bahia).

Por lá, é possível dormir de janela aberta ouvindo o barulho do mar. Descansar na rede observando o horizonte. Ler. Refletir sobre como a relação espaço-tempo pode ser tanto aprisionante como libertadora.

Quando viajamos para lugares desconhecidos que oferecem paisagens diferentes e novas pessoas, os dias parecem ganhar horas e durar muito mais do que apenas 24h.

Reverenciar velhos hábitos foi renovador e inspirador. Que possamos desfrutá-los com mais intensidade nesse novo ano. Axé!

* que ainda está com o ritmo bahiano.

Dicas

Ficar: Pousada Flor do Mar

Comer: Moqueca do Magaba, Peixe com Shitak e Shimeji da Cachaçaria Busca Vida e os deliciosos pratos vegetarianos do Canto da Duca.