Falando em Holanda…

Por Tatiana Nicz*

Que na Holanda todos usam a bicicleta como principal meio de transporte, não é novidade. Que existem mais bicicletas que habitantes, provavelmente também não. Na verdade, em várias cidades da Europa a bicicleta é um meio de transporte comum. Ela é barata, simples e eficiente, traduz bastante o estilo de vida da classe média européia. Lembre-se, estamos falando da Europa e não dos Estados Unidos. Portanto, falemos sim de estilo prático e econômico, talvez não tão barato, mas na Europa as pessoas em geral vivem com menos, não têm o carro do ano e não colecionam sapatos, pois tudo custa e não é barato.

Mas voltando às bicicletas e, claro, à Holanda. Quando vim morar aqui eu já sabia de tudo o que a maioria das pessoas sabe: bicicletas, tulipas, moinhos e sapatos de madeira. Mas nunca tinha experenciado tudo isso no meu dia-a-dia. Como vim para estudar, vivia como estudante, portanto a vida é econômica e o principal transporte é a bicicleta.

No início eu pensava, mas como fazer tudo de bicicleta? Uma coisa era o que estava acostumada no Brasil: capacete, roupa esporte e pedalada como maneira de me exercitar. Outra coisa seria: fazer compras no supermercado, cinema, baladas, eventos sociais, sair todos os dias de manhã cedo para as aulas, enfrentar dias frios (que não foram poucos), chuvas (também não o foram) e tudo isso… pedalando?

Bom, não preciso dizer que foi toda uma readaptação. Acho que não somente física, mas uma questão de quebrar preconceitos, aqueles que trazemos em nossa bagagem cultural sem nem perceber. Mas, como nos acostumamos rapidamente com tudo, passei também a apreciar as maravilhas de pedalar e, mais que isso, de ter condições favoráveis para isso. Aqui são aplicadas às bicicletas as mesmas regras que para veículos automotores: semáforos especiais, pistas, obrigatoriedade de utilização de faróis na frente e traseiro, buzina e muitos estacionamentos. E o tratamento é também igualitário, todos respeitam e todos utilizam. E assim, comecei a apreciar as maravilhas desse meio de transporte, uma simples engenhoca e voilà! Praticidade que faz bem para o corpo, mente e, claro, bolso. E de quebra, colabora com o meio ambiente.

Eu sei que a realidade brasileira é outra, não pretendo conduzir nosso leitor a um pensamento crítico de como é difícil aplicar essas mesmas regras no Brasil. Também sei que existem pessoas se organizando para implementar algumas  mudanças de atitudes e respeitar melhor nossos ciclistas por aí.

A minha intenção é apenas reportar um pouco dessa experiência maravilhosa que é pedalar no mundo, aprender a olhar a vida de outro prisma. Pois tudo o que se vê por aqui são bicicletas, de todas as cores, tipos, idades e tamanhos. Algumas super exóticas, bicicletas especiais para mulheres e suas saias, para fazer mudança, para carregar crianças, compras, etc. Aqui, todo mundo pedala, crianças pequenas, adultos e pessoas da melhor idade, mulheres elegantíssimas em seu salto alto, pessoas ricas e mais simples, todos são iguais quando estão em sua bicicleta.

Portanto, caro leitor, se o que temos no Brasil é uma pedalada diferente ou “arriscada” de certa maneira, não importa: coloque equipamentos de segurança, escolha um lugar seguro, vista sua roupa esporte, alongue seu corpo, vá em grupo ou sozinho e saia por aí a olhar o mundo pedalando. E se o inverno é uma desculpa para te deixar fora dessa, talvez isso te sirva como incentivo: o inverno Europeu com certeza é mais frio, cinza e sem graça que o nosso e nem por isso as pessoas deixam de fazer suas atividades rotineiras, elas continuam vivendo. Pois continue você também, utilize esse fator como um ponto a seu favor. Escolha um dia ensolarado e pense no retorno à casa, que além do descanso, te permita saborear uma sopa quentinha ou um bom vinho. E mais, saiba que pedalar esquenta. Não só o corpo, mas também o coração!

*Tatiana Nicz que morre de vergonha pois desde que voltou da Holanda não encostou em sua bicicleta.

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