Instigar, verbo que faz viajar

* Fernanda Nicz

Combinação perfeita: entretenimento e reflexão. Dois ingredientes que garantem uma viagem prazerosa e proveitosa. Ninguém viaja por viajar simplesmente, apenas por ir. Há sempre uma intenção ou uma busca. Intenção de se divertir, se perder ou se encontrar, aprender e evoluir; conhecer.

Dentre os vários tipos de viagem, há uma que muito me encanta; a viagem proporcionada pelo cinema. Um filme europeu ou asiático, por exemplo, nos levam para cidades, culturas e costumes diferentes e enriquecem a alma. Filmes de qualidade nos tiram da realidade e da rotina (e isso é uma delícia!). O diretor chinês Wong Kar-wai é um dos que mais admiro. “Amor a Flor da Pele” é uma obra que faz viajar não apenas pela boa história contada, mas pelo visual e o sonoro. Cores e músicas pontuam a trama e ajudam a contar a história que aborda a traição nos relacionamentos amorosos.

“Cisne Negro”, que rendeu a Natalie Portman o Oscar de melhor atriz, propicia uma viagem psicológica arrebatadora e corajosa. Há neste filme uma viagem interior que vai ao âmago de questões como o bem e o mal, a força e a fraqueza levada ao limite tênue da loucura. Sim, o cinema pode fazer viajar internamente também.

Há ainda os filmes que nos dão vontade de saber mais. É o caso dos nacionais: “Meu nome não é Johnny” e “Vips” (em cartaz em Curitiba). Saímos do cinema curiosos e sedentos por mais informações acerca dos personagens e suas histórias. Ótimo, esta é uma das funções do cinema; instigar. Concordo com a afirmação de alguns críticos que dizem que os bons filmes não acabam quando as luzes se acendem. Bons filmes vão além do momento do filme; provocam, geram dúvidas, levantam questões, inspiram e sugerem novas idéias.

Um poeta já disse: “mais que entendê-la, é preciso adentrar a obra”. De fato, é preciso abandonar a neurose de entender cada detalhe de um filme. Para tanto, é necessário modificar o olhar e a postura diante da telona. Muitos espectadores, tão preocupados em entender, esquecem de sentir. Da próxima vez, faça assim: simplesmente vá e se permita viver a viagem proporcionada pelo diretor. O mais importante são as sensações que o filme provoca em você. As perguntas a serem feitas depois são: o que você sentiu diante do que viu? Mexeu com você de alguma forma? E por aí vai….

Finalizo com a frase do escritor francês Antoine de Baecque (autor do livro: “Cinefilia”) “Realmente não entendo tudo nos filmes que vejo. O que peço de um filme é o que me parece mais valioso: a chance de se perder em imagens do mundo”. Perfeito.

*Que está louca para conferir uma viagem que promete: o filme tailandês vencedor do Festival de Cannes “Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas”.

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