Um tour gastronômico pelo mundo.

*Por Tatiana Nicz

“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. João Guimarães Rosa.

Sábio Guimarães Rosa! Acredito que ele devia também incluir nessa frase: engorda e emagrece… não acham? Bom, pelo menos no meu caso sim. Certo, e você pode estar pensando: os textos deste blog não devem falar sobre viagens? Sim, então hoje gostaria de – bem humoradamente – expor um pequeno impasse pessoal que, como tudo na minha vida, está relacionado a andanças mundo a fora.

Dizem que algumas viagens fazem emagrecer. Para mim, a maioria engorda. Não adianta. Gosto demais de apreciar diferentes texturas, sabores, aromas. Foi assim quando morei em Londres. Decidi experimentar tudo o que via de diferente, e eu gostava – gosto – de tudo, ou quase tudo. Restaurantes indianos, tailandeses, um bagel fresquinho no Oi bagels, fish& chips em qualquer esquina – acredite: quanto pior o lugar, melhor o sabor -, chás aromáticos de Convent Garden, cafés de diferentes sabores do Costa Coffee, uma pint de cider em qualquer pub (meus preferidos: O´neils Chinatown ou e The Slug&Lettuce), uma boa english pie na Victoria Station, algo pelas ruas de Camden Town, e o melhor; visitar todos os “markets” tais como Portobello Market.

Depois de Londres emendei uma temporada em Israel. Lá, a culinária mescla comida mediterrânea com comida árabe. Hommus (pasta de grão de bico) de todos os tipos com pita e o famoso homus phul – pasta de grão de bico com ovo e feijão. Os mercados israelenses são parecidos com os árabes.  Ambos misturam cheiros, cores e temperos de todos os tipos. Lindo de ver, melhor ainda de experimentar. Adorava as azeitonas de vários tamanhos, muito azeite de oliva na comida – dos melhores e mais virgens. E bons vinhos para acompanhar. Destas viagens, trouxe alguns – ou muitos – quilos a mais e o retorno ao Brasil me levou a outra maratona. Desta vez, nada de viagens, muito menos de comidas diferentes, apenas consultórios médicos. Emagreci.

Alguns anos depois, voltei para a Europa para um mestrado – sonho antigo. Muita leitura, poucos exercícios e, novamente, quilos acumulados. Devo admitir que não achei a comida das melhores e para piorar, o costume por lá é almoçar um sanduíche ou sopa e deixar a refeição principal para a noite. Culpo os stroopwafels ou speculaas, com café. Delícia! Explorar os “markten” (feiras), na Holanda, era um hobby. Encontrava de tudo: frutas e verduras frescas e muitas esquisitices como peixe cru com cebola – um tipo de rollmops holandês. Uma coisa boa na Holanda são os laticínios, os pães e os “gebakjes” (folhados e salgados). Um bom vinho acompanha e os vinhos por lá, como em Londres, são bons e baratos.

Quando voltei para o Brasil, emagreci novamente. E eu, que lutei a vida inteira contra a balança, achei que tinha finalmente me livrado do mal da gula. Repito: achei. Porém, claro, mais algumas viagens marcadas e o que parecia simplesmente férias inofensivas me fez reviver o “drama” mais uma vez. Nos Estados Unidos engordei de novo. Amava visitar os supermercados e testava tudo. Rendi-me aos prazeres da Starbucks, principalmente em Seattle, onde ela é local – assim me livrava do peso na consciência de estar contribuindo para o modelo “big corporation”. Muffins, brownies, cookies, sorvete ben&jerry´s… fast food da mais pura e péssima categoria. Peanutbutter – ah, manteiga de amendoim!

Depois dos Estados Unidos, fui ao México. A comida é uma festa não só no nome, mas também no sabor. Tacos, nachos, enchilladas, tortillas, etc. Para acompanhar, margaritas de tamarindo, uma delícia!

Sim, foram todos quilos acumulados com muito prazer, literalmente degustando cada momento. Além dos quilos, acumulei também muita bagagem, e não me arrependo. Por tudo isso me identifiquei muito com Elisabeth Gilbert no livro “Comer, rezar, amar”. Quem leu sabe do que estou falando. A busca pelo prazer é fundamental e alimenta não só o corpo, mas também a alma. Agora, o árduo trabalho: mãos à obra para perder tudo novamente, pois esse ano tem mais viagens e bagagens, porém, a partir de agora, espero saber dosar gula e curiosidade gastronômica e assim, não trazer tantos quilos das minhas variadas andanças. Afinal, nunca é tarde para mudar e, como disse Guimarães Rosa, o que a vida quer da gente é coragem!

*Tatiana Nicz no momento, de dieta.

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